sexta-feira, 5 de junho de 2009

Adoção de irmãos: afeto multiplicado - por Vanessa Araújo

Desde que casou, Renata Vitorino, 38, tinha vontade de adotar uma criança. Aos 35 anos, sem ter conseguido engravidar, resolveu, junto com o marido, procurar o NAEF (Núcleo de Adoção e Estudos da Família), serviço de Adoção da 2ª Vara de Infância e da Juventude em Recife. Em novembro de 2005, providenciaram a documentação necessária e marcaram a entrevista psicossocial; em janeiro de 2006, receberam a visita da assistente social e da psicóloga para a entrevista. Após o parecer favorável, eles preencheram um cadastro, no qual optaram pelo seguinte perfil: adoção de até duas crianças, de 0 a 6 anos, independente de cor e sexo. Em abril do mesmo ano, o casal ficou surpreso ao saber que poderia ir buscar Marcondes, então com 1 ano e 5 dias de idade, para o estágio de convivência que durou dois meses.
Hoje, Marcondes tem quatro anos e a família Vitorino deu entrada novamente em outro processo de adoção. O perfil é semelhante, apenas com a ressalva de que uma das crianças seja menina, uma escolha do marido de Renata. Ao definir no cadastro “até dois filhos”, o casal se permite a adotar crianças irmãs, fato pouco comum. A rapidez com que o filho chegou a sua casa fez Renata perceber que a burocracia excessiva de que se fala é uma desculpa para aqueles que não querem adotar. “É importante que haja esse controle, porque se trata da vida de uma criança. Se formos comparar a uma gravidez biológica, a mulher espera aproximadamente nove meses para ter seu filhinho nos braços” – conta.
Membro da comissão fiscalizadora do GEAD (Grupo de Estudo e Apoio à Adoção) em Recife, Renata participa das reuniões mensais nas quais pais adotivos ou que pretendem adotar esclarecem dúvidas, trocam idéias e experiências e debatem acerca de um assunto que deixa pais adotivos inseguros: a revelação. O grupo é uma sociedade sem fins lucrativos, fundado em 1997, formado por psicólogos e educadores cujo enfoque central é a consolidação de uma nova cultura de adoção. Além de divulgar a importância do processo legal da adoção e estimular a adoção de irmãos, o grupo pretende desmistificar mitos e preconceitos, inclusive introduzindo o assunto nas escolas, para naturalizar essa realidade nas crianças.

GEAD promove a Semana da Adoção para orientar pais e interessados no tema

Do dia 25 de maio, considerado o Dia Nacional da Adoção, até 31 deste mês, o GEAD, em parceria com o Tribunal de Justiça, estará com um stand montado no Shopping Plaza Casa Forte, onde psicólogos e representantes da Vara da Infância darão orientações e esclarecerão dúvidas sobre a adoção. Ana Clara Lins e sua irmã Fátima Lins visitaram o stand para tirar algumas dúvidas, dentre as quais era como se deve proceder quando a criança é entregue diretamente pela mãe biológica ou colocada na porta da casa e como é o processo de adoção de crianças irmãs.
A dificuldade que crianças irmãs encontram de serem adotadas é que, na maioria dos casos, elas têm idades diferentes e muitas vezes uma das duas não corresponde à idade do perfil solicitado. Segundo Magali Andréia Barreto, representante da assistência social da 2ª Vara da Infância e da Juventude, a intenção do juizado é manter as crianças juntas, ou seja, que elas sejam adotadas pela mesma família. Para isso, eles dão prioridade ao cadastro dos pais que possibilitem essa adoção. No entanto, “nem por isso, nós vamos facilitar o processo. Os pais terão que se submeter às entrevistas, às visitas da assistente social, ao acompanhamento do psicólogo responsável da mesma forma que os pais que adotam uma única criança. Em alguns casos, o cuidado deve ser redobrado” – comenta.

Adoção interracial de gêmeos

“Não tinha a maternidade como a coisa mais importante da minha vida. Hoje, não saberia viver sem ter sido mãe de Hermes e Vitor” - Maria de Pompéia

Maria de Pompéia Pessoa tem 54 anos, é engenheira eletricista e mãe dos gêmeos Hermes e Vitor. Vinte anos atrás, casada e sem a possibilidade de ter filhos biológicos porque seu marido já havia feito a escolha da esterilização dele, Pompéia soube da história dos irmãos que seriam abandonados pela mãe e resolveu adotá-los. Diferentemente do comum, os filhos vieram até eles, sem que fosse necessário ficar na fila de espera. Ela conta: “eles tinham dois anos de vida e quando os peguei pela primeira vez nos braços, abracei e comecei a contar que eles eram adotados. As pessoas diziam ‘eles não entendem’. E eu dizia ‘mas eu entendo’. Eu estava deixando o assunto de adoção como uma coisa normal tanto para mim quanto para eles.”
Para ela, a adoção surgiu da necessidade que as crianças tinham de ter uma família, porque ela e o marido, José Aílton Pessoa, acreditam que esse é um direito de todos. Os meninos chegaram pelas mãos de uma assistente social que acompanhava a mãe biológica e, diante disso, aquela pediu para que Pompéia ficasse com as crianças por causa da dificuldade que elas teriam em ser adotadas. “Infelizmente, é muito difícil as pessoas quererem adotar irmãos, porque sempre acham que vai dar muito trabalho”, afirma.
Há vinte anos, o processo de adoção era diferente. As crianças ficaram com o casal e eles foram ao juizado, explicaram a situação e já saíram com o registro. Casos assim são mais difíceis hoje, porque, se isso acontecer, os pais deverão passar pela entrevista e esperar o parecer do Ministério Público. Segundo a assistente social Magali Andréia Barreto, hoje, com o cadastro único criado pelo juizado, há uma maior organização e controle. Além disso, as mudanças também podem ser vistas em relação à abertura que as pessoas têm para falar do assunto. Ela conta que, antigamente, era comum as famílias que adotavam não terem uma relação concreta de paternidade e maternidade e ouvia-se muito as pessoas dizerem “aquele é meu filho” e “aquele eu crio”. Quando Maria de Pompéia adotou os gêmeos, não havia os grupos de apoio e a adoção era assunto quase que sigiloso. Ela acredita que a importância da existência desses grupos se dá tanto para quem já é pai quanto para quem quer adotar, porque, apesar de hoje ser muito divulgado, ainda se tem muitas dificuldades. Ainda permeiam alguns mitos e medos de que a herança genética da criança possa afetar a relação com os pais. Mas na casa dela, isso não existiu.
Segundo ela, foi tranqüilo contar para os meninos que eles eram adotados, porque ela acredita que a verdade deve prevalecer. Ela acreditava que assim como eles aprenderiam que um se chamava Vitor e o outro, Hermes e que ela era a mãe e o outro, o pai, eles aprenderiam que eram adotados. “Quando eles começaram a crescer um pouquinho e estavam naquela fase de que, para dormir, tinha que ouvir história, a gente contava uma na qual havia uma mãe que tinha dois menininhos negros na barriga e que, quando eles nasceram, ela não podia ficar com eles. Aí eles ficaram com uma outra mãe, que ficou muito feliz. À medida que a gente ia contando isso para eles, eles começavam a se identificar e dizer: ‘Hermes e Vitor’. Era tão claro que, tinha dia em que eles chegavam para a gente e diziam: ‘a história de Hermes e Vitor hoje não’. E tinha dia também que chegavam e diziam: ‘mamãe, conta a história de Hermes e Vitor!’”. Isso mostra que a revelação da adoção foi muito natural na vida deles, mas que ainda constitui um obstáculo para as pessoas adotarem.
Em alguns momentos, a engenheira teve que enfrentar o preconceito por causa da cor dos meninos. Uma vez, antes de eles chegarem, uma tia dela perguntou qual era a cor deles. Mas ela não se importava com isso e respondeu com um humor característico: “sei não, tia. Eles não são fogão e geladeira para eu combinar a cor.” Essa questão faz Pompéia relembrar de outro fato que ela conta dando gargalhadas. “Às vezes, eu saía com eles e as pessoas chegavam e perguntavam, primeiramente: ‘são seus filhos?’ E eu dizia: ‘sim, são meus filhos’. E a segunda pergunta vinha rápida: ‘são seus filhos mesmo?’ ‘Sim, são meus filhos mesmo!’, eu dizia, afinal, eles eram mesmo meus filhos. Logo, havia a terceira: ‘puxaram ao pai?’ Então eu dizia ‘não sei, talvez’. E isso deixava as pessoas confusas.”
Mas isso não interferiu na criação dos meninos. Eles cresceram com a adoção sendo muito natural nas suas vidas e foram educados como se fossem filhos biológicos, porque são filhos independente de serem adotivos. A mãe declara “não tinha a maternidade como a coisa mais importante da minha vida. Hoje, não saberia viver sem ter sido mãe de Hermes e Vitor.” Aos quatro anos, eles foram capa de jornal e apareceram na televisão por serem adotados. Então, para eles, isso passou a ser uma vantagem. Depois dos meninos, Maria de Pompéia conta que houve mais adoções na família: a irmã dela adotou uma criança e a cunhada, gêmeos. Ela só lamenta por não ter tido o direito à licença maternidade para poder cuidar mais dos filhos quando eles chegaram. Mas apóia esse direito que hoje é concedido pela justiça para mães adotivas, de acordo com a idade da criança, porque, dessa forma, a adoção é vista como a efetivação de uma família ou outra forma de se ser pai e mãe, diferentemente do que era há 20 anos.

Acerto de Contas - Por Marcella Semente e Carolina Siqueira







O isolamento compulsório castigou milhares de brasileiros portadores de hanseníase durante mais de meio século. Para amenizar os efeitos decorrentes desses anos de reclusão, o Governo Federal aprovou uma lei que garante o pagamento de uma pensão vitalícia a todos aqueles que foram obrigados a se internarem nos hospitais-colônias.


Dona Maria José Ferreira de Carvalho (Maria Pequena), foto, foi internada no Hospital da Mirueira aos 28 anos. Era casada e tinha seis filhos. As primeiras dores levaram-na a procurar um médico e a doença foi diagnosticada. Entretanto, como não havia tratamento, o registro dos sintomas de Dona Maria José implicariam apenas em seu isolamento do convívio social. Dessa forma, a doença foi escondida. Quando as manchas surgiram, não foi mais possível encobrir a enfermidade e ela foi internada no Hospital-Colônia Santa Tereza. Seguiu do posto direto para o hospital. “Eu ‘ia’ para casa fazer o quê? Do posto mesmo vim embora. Eu disse: ‘Doutor, eu vou hoje’. Aí ele: ‘eu vou lhe ajudar’. Sabe qual foi a ajuda? O carro branco, que hoje é a ambulância”.
Assim como Dona Maria Pequena, outros tantos portadores de hanseníase foram obrigados a se internar no período entre 1930 e 1986. Aqui em Pernambuco eles eram mandados para o Sanatório Padre Antônio Manuel que, na década de 60, chegou a comportar 500 internos, apesar de ter capacidade apenas para 400.




Em decorrência dessa segregação, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, juntamente com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), elaboraram um projeto de lei que prevê uma pensão mensal e vitalícia no valor de R$ 750.
Através do então senador petista Tião Viana, a proposta foi levada para votação na câmara e sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula Silva, em 18 de setembro de 2007.
Todos aqueles que foram isolados compulsoriamente até o dia 31 de dezembro de 1986 têm direito a indenização que é acumulativa com outros benefícios e retroativa ao dia em que foi dada entrada no processo. Em Pernambuco, Dona Maria Pequena e outros 40 ex-portadores de hanseníase já estão recebendo a “pensão do Lula”, como ela se refere ao benefício.

HOSPITAIS-COLÔNIAS

Com a finalidade de separar os infectados da sociedade para que não houvesse contágio, foram construídos os hospitais-colônias.
O Hospital da Mirueira, antigo Hospital-Colônia Santa Tereza, localizado no bairro da Mirueira em Paulista-PE, é uma dessas colônias. Foi inaugurado em 1941 e desde então abriga pacientes portadores de hanseníase. Hoje, também realiza tratamento de dependência química, sendo considerado referência estadual na área.
Na década de 60, o hospital chegou a ter 500 internos, que contavam com a estrutura de uma “microcidade”. Na tentativa de esquecer os sofrimentos e as debilitações trazidos pela doença, os moradores do hospital realizavam torneios de futebol entre os hospitais-colônias do Brasil, organizaram a Troupe Teatral Brasil-Lisboa, assim como o jornal A Voz da Mirueira e uma rádio que narrava as notícias internas e está em funcionamento até hoje.
Devido ao longo período de permanência no hospital, vários enfermos se casaram e constituíram família, o que gerou a necessidade de criar a vila dos casados que se uniu as outras duas alas já existentes, as alas feminina e masculina.
Na década de 60, o hospital chegou a ter 500 internos, que contavam com a estrutura de uma “microcidade”. Na tentativa de esquecer os sofrimentos e as debilitações trazidos pela doença, os moradores do hospital realizavam torneios de futebol entre os hospitais-colônias do Brasil, organizaram a Troupe Teatral Brasil-Lisboa, assim como o jornal A Voz da Mirueira e uma rádio que narrava as notícias internas e está em funcionamento até hoje.
Devido ao longo período de permanência no hospital, vários enfermos se casaram e constituíram família, o que gerou a necessidade de criar a vila dos casados que se uniu às outras duas alas já existentes, as alas feminina e masculina.
Na década de 60, o hospital chegou a ter 500 internos, que contavam com a estrutura de uma “microcidade”. Na tentativa de esquecer os sofrimentos e as debilitações trazidos pela doença, os moradores do hospital realizavam torneios de futebol entre os hospitais-colônias do Brasil, organizaram a Troupe Teatral Brasil-Lisboa, assim como o jornal A Voz da Mirueira e uma rádio que narrava as notícias internas e está em funcionamento até hoje.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O isolamento compulsório foi instituído por lei pelo presidente Getúlio Vargas em 1930. Aqueles em que era diagnosticada a hanseníase (lepra) eram encaminhados aos Hospitais dos Lázaros. A partir daí, foram construídos pelo menos um hospital-colônia em cada estado. Como não havia tratamento, eles tinham por finalidade exclusiva afastar os infectados da sociedade para que não houvesse contágio. Esses hospitais eram situados em locais altos e distantes dos centros urbanos, em campo aberto, onde houvesse circulação de ar intensa.
Ala femininaAté 1986 foram feitas várias leis que tentavam reintegrar os pacientes, regulamentando a saída deles (pacientes que recebiam alta e não apresentavam risco de contágio, por exemplo). Em alguns casos, leis garantiam ao paciente o direito de ficar internado mesmo que já estivesse curado, pois já não possuíam relações nem vínculo algum com a sociedade e sua família depois de décadas de confinamento.
Os tratamentos foram surgindo aos poucos e, com a poliquimioterapia, utilizada até hoje, a evolução da doença pôde ser contida.
Em 1976, o Ministério da Saúde revogou o direito da polícia sanitária de levar à força os doentes para os hospitais-colônias. Apesar da revogação, até 1986, quando houve uma lei efetiva, os doentes eram obrigados a se internar. Por isso, a Lei 6168/2007, estendeu o benefício da pensão até essa data. Contudo, aqueles que foram hospitalizados nessas condições, entre 1976 e 1986, estão enfrentando dificuldades para serem indenizados, pois a comissão precisa diferenciar os casos de internação obrigatória das pessoas que eram encaminhadas aos hospitais por não terem condições de fazer o tratamento fora de lá.

PRECONCEITO

Data de 1976 também a mudança na denominação “lepra” para “hanseníase” feita pelo Brasil. Essa mudança gerou muitas controvérsias, mas é apoiada por dermatologistas e pacientes.
Segundo a historiadora da Universidade Federal de Pernambuco, Carolina Cahu, cujo doutorado é sobre o preconceito aos portadores de hanseníase, "a mudança do nome foi criada para apagar o estigma, eliminar o preconceito, mas acabou escondendo, abafando. Ela não reeducou a população para que aceitasse a doença como uma doença curável. É como se a lepra tivesse acabado e outra doença tivesse surgido. Ela não desconstrói os mitos, passa por cima”.
No momento em que saíam das casas de saúde, além do estigma da lepra, elas possuíam deficiências físicas e deformidades. “Muitas pessoas, mesmo nos dias de hoje, consideram a doença como castigo”, afirma Carolina.
Quando o tratamento ambulatorial substituiu o internamento, o número de diagnósticos cresceu bastante. “Hoje temos um aumento dos casos diagnosticados de hanseníase porque as pessoas sabem que o tratamento não é tão doloroso e que não serão isoladas”, continua.
A hanseníase é considerada problema de saúde pública pelo Ministério da Saúde. O Brasil é o segundo no mundo em casos diagnosticados, e o Nordeste, o primeiro do país. Em novo acordo com a Organização Mundial de Saúde, ate 2010 devemos atingir a meta de 4 casos de doença por 10.000 habitantes, meta que deveria ter sido cumprida em 2005.
Há alguns anos o tratamento já demonstra estar evoluindo. O acompanhamento realizado pelo Programa de Saúde da Família, onde os agentes de saúde visitam as casas e trabalham dentro da realidade de cada família é um exemplo das políticas que estão dando resultado, tornando possível, registrar desde cedo as manifestações dos sintomas de hanseníase. Esses pacientes são dirigidos aos postos de saúde, onde recebem tratamento. O PSF garante também ao doente uma cesta básica, caso ele seja o gerador de renda da família.

INDENIZAÇÕES E LEIS

Para requerer a indenização é preciso ter ficado recluso obrigatoriamente em algum hospital-colônia até o ano de 1986. Contudo, é preciso comprovar os anos de reclusão através de uma declaração dada pelo hospital e da ficha epidemiológica e clínica. Esses documentos, porém, na maioria dos casos foram perdidos ou estão deteriorados e rasurados. “A falta de documentos dificulta o processo. Em cada hospital tem um arquivo, mas não tem muitos documentos e está com muitas fichas deterioradas, rasuradas. Por esses arquivos não temos nem condições de saber quem faleceu ou não faleceu, nem mesmo onde eles moram”, explica a assistente social do Hospital Geral da Mirueira, responsável por esses processos.
Dos pacientes da Mirueira, internos e egressos, cerca de 200 já fizeram o requerimento e desses, 41 foram aprovados. Devido à idade avançada e à saúde precária decorrente do histórico de hanseníase dessas pessoas, o Ministério da Justiça está tentando agilizar os processos. “Dos 41, doze já faleceram”, afirmou o coordenador do Morhan em Pernambuco e presidente da Associação de Egressos (AESPAM) Juliano Farias, que tem processo em andamento. No procedimento, é dada prioridade àqueles que tem mais de 65 anos e o prazo de deferimento depois que o processo chega ao INSS é de apenas 48 horas.
A iniciativa é do paciente. Através do preenchimento de um formulário que pode ser obtido no site do Morhan, na Associação de Egressos ou no próprio Hospital, ele pode dar entrada no processo. Não há prazo para realização do requerimento. Após avaliação do Ministério Público, um ofício é enviado ao hospital pedindo cópias dos documentos e o requerimento volta para o Ministério. Se aprovado, é encaminhado ao Instituto Nacional de Seguridade Social, órgão encarregado de repassar o benefício. O INSS aguarda a publicação da portaria de autorização no Diário Oficial e aprova a liberação do pagamento. A verba provém do Tesouro Nacional, ou seja, não compromete os recursos da Previdência Social. O tempo de duração do processo costuma ser de um ano. E, se a pessoa já for aposentada por invalidez, a verificação e aprovação são mais fáceis.
A Comissão Interministerial de Avaliação em Hanseníase é responsável pela análise dos pedidos de pensão especial e composta pelo Ministério da Saúde, da Justiça, da Previdência Social, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Planejamento, Orçamento e Gestão, além de representantes do Morhan, como observadores. É coordenada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos.
A lei 6168/2007 também prevê que o INSS deve orientar àqueles que têm direito ao benefício, porém os funcionários não estão capacitados a informar sobre o benefício, pois não houve qualquer treinamento, é o que nos informou o funcionário da previdência responsável pela liberação e cadastro dessa pensão.
No momento, está em discussão a proposta de Eni Carajá, Morhan/MG, para que os filhos dos hansenianos também sejam indenizados. Assim como os pais, eles sofreram preconceito e foram privados do convívio social e familiar desde o nascimento. Ainda que essa pensão não resgate o passado de isolamento social e preconceito, é uma forma de redimir os erros que foram cometidos devido a pouca informação que se tinha sobre o tratamento da hanseníase.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Acessibilidade nos ônibus do Recife - blog de Ana Laura

O blog Acessibilidade Ônibus Recife surgiu de um questionamento, de uma inquietação. Como deve ser para um deficiente pegar ônibus em nossa Região Metropolitana? Considerando as dificuldades das próprias vias e o próprio deslocamento, além da própria acessibilidade (ou falta dela) em muitos veículos, decidi abordar o tema num trabalho acadêmico realizado para a disciplina Jornalismo Cordial, ministrada por Adriana Santana na Universidade Federal de Pernambuco.
Buscando inquietar e informar sobre uma questão tão delicada e que muitas vezes não é tratada com toda a humanização que deveria, eu, Ana Laura Farias, estudante de Jornalismo da UFPE, entrevistei Fernanda Gouvêa, Gerente de Relacionamento da Grande Recife; Luci Florenço de Aquino, João Pereira da Penha Filho e Ricardo Maranhão de Lima Pessoa, deficientes físicos, usuários dos ônibus com SET (Serviço Especial de Transporte) e moradores do Albert Sabin, conjunto residencial adaptado para deficientes, na cidade de Paulista.
Além disso, participei de uma conversa informal com Edson, autônomo da Avenida Conde da Boa Vista. Edson gentilmente aceitou que eu o filmasse na subida de um ônibus com SET, para mostrar aqui como é a operação dos ônibus especiais.

endereço: http://acessibilidadeonibusrecife.blogspot.com/

Jardins de Burle Marx - por Gabriela Bezerra




Muitas vezes, a presença rotineira de um cenário faz com que ele passe despercebido para as pessoas que o freqüentam. Assim, é necessário uma data significativa para valorizá-lo: os cem anos de nascimento do paisagista Roberto Burle Marx têm essa função. Com obras mundialmente apreciadas, o artista é pouco conhecido no seu próprio país. Importante devido às suas contribuições ao paisagismo e, principalmente, ao cotidiano das pessoas, através das praças que projetou, Burle Marx criou uma nova concepção de jardim. “Ele desenvolveu a filosofia do jardim moderno que é a de valorizar os atributos nacionais e os materiais regionais da paisagem”, afirma a Coordenadora do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Rita Sá Carneiro.
Burle Marx nasceu em 4 de agosto de 1909 em São Paulo. Filho de alemão e de pernambucana, o artista foi influenciado pelos dois lugares, importantes para a sua carreira paisagística. Ligado a Pernambuco pela mãe, Cecília Burle, ele morou, de 1934 a 1937, na cidade do Recife, onde projetou o seu primeiro jardim público, a Praça de Casa Forte. Com a missão de chefiar o setor de Parques e Jardins do governo do Estado, Burle Marx, aos 25 anos, foi o primeiro paisagista a vir à cidade, trazendo uma forma diferente de ver a paisagem, dissociada dos padrões europeus. O “poeta dos jardins”, como foi apelidado por Tarsila do Amaral, incorporou a vegetação brasileira às suas criações e foi um dos precursores da consciência ecológica, dando palestras sobre o tema ainda na década de 1970. “Ele dizia o tempo todo: o jardim tem que ter uma função ecológica”, completa Ana Rita.
Em sua primeira estadia na capital pernambucana, Burle Marx projetou a Praça de Casa Forte, a Praça Euclides da Cunha (em frente ao Clube Internacional), o Campo das Princesas, a Praça da República e a Praça do Derby. O regresso do paisagista ao Recife se daria em 1957, a convite do então prefeito Pelópidas Silveira. Nessa breve temporada na cidade, ele realizou o projeto de mais duas praças: A Salgado Filho (em frente ao Aeroporto Internacional dos Guararapes - Gilberto Freyre) e a Faria Neves (em frente ao Horto de Dois Irmãos). Outras obras foram projetadas por ele, mas não tiveram construção efetivada ou já foram modificadas, a exemplo da Praça do Arsenal da Marinha, no centro do Recife, cujo projeto realizado por Burle Marx foi alterado em 1970 pela prefeitura.
Como vários artistas, Burle Marx foi vítima da incompreensão de sua obra. Ainda quando projetava a Praça Euclides da Cunha — baseada nos estudos deste escritor sobre o sertão —, o paisagista foi alvo de críticas por alguns intelectuais como o jornalista Mário Melo. Os anos passaram, mas a praça, que tem como tema a caatinga, ainda não conquistou a simpatia de todos moradores das redondezas. A estudante universitária Amanda Mello é uma das pessoas que não aprova a estética diferenciada da praça. “Não é vantagem, numa cidade tão calorenta, fazer uma praça com cactos”, afirma a estudante, alegando que a escassa vegetação do lugar torna a praça quente e inviável para passeios. De acordo com ela, as praças públicas devem prezar pela arborização para tornar o ambiente agradável.
Além de obras paisagísticas, o artista realizou trabalhos em outras áreas, como pintura, tapeçaria e escultura. Burle Marx foi, nos fins da década de 1930, assistente do pintor Candido Portinari e, a partir de 1947, chegou a dar aulas à artista Lygia Clark. Algumas das obras plásticas de Burle Marx encontram-se no Recife e podem ser visitadas no Museu do Estado e no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, o MAMAM.

PRESERVAÇÃO
Com a iminência da data do centenário, a Câmara do Recife realizou, sob a coordenação do vereador Eduardo Marques (PTB), audiência pública no último 12 de maio. Objetivando discutir a atual situação das praças projetadas por Burle Marx e viabilizar a criação de um comitê pró-centenário, o presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, Luciano Siqueira (PC do B), propôs o debate. Segundo ele, “Seria uma miopia não perceber a relação da obra de Burle Marx com o patrimônio cultural da cidade”.
Na ocasião, Luciano Siqueira falou sobre os compromissos da Câmara com a data de nascimento do paisagista. Entre as iniciativas, está o encaminhamento de um ofício ao governador Eduardo Campos (PSB) para viabilizar a nível estadual o processo de tombamento dos jardins de Burle Marx. Tal processo garantirá que as praças tombadas não sejam destruídas, demolidas ou modificadas. Dos sete jardins projetados pelo paisagista na cidade, nenhum é tombado. Ana Rita afirmou que o Laboratório da Paisagem (UFPE) já dispõe de inventário — estudo minucioso do que compõe os jardins —, necessário para a realização do tombamento, que já foi solicitado desde abril de 2008, a nível nacional e estadual, ao IPHAN e à Fundarpe, respectivamente. A diretora de Preservação Cultural da Fundarpe, Neide Fernandes, afirmou que a proposta entregue à fundação está em processo de análise, que pode demorar até dois anos, mas adiantou que “não há dúvidas” quanto à importância do tombamento.
O vereador falou ainda — em nome do prefeito João da Costa (PT) — que a prefeitura dispõe-se a financiar a impressão de cartilhas educativas sobre o paisagista, propostas pelo Laboratório da Paisagem (UFPE), para a população e a realizar uma semana pró-Burle Marx em comemoração ao centenário. A assessoria da prefeitura, contudo, afirmou na manhã de hoje (1º/06/2009) que a “Semana Burle Marx” ainda não tem programação definida, mas que provavelmente será parte da comemoração da “Semana do Meio Ambiente”, programada para esta semana.
Sobre os investimentos da prefeitura para a preservação das praças, o Secretário Municipal de Serviços Públicos, José Humberto Cavalcante, afirmou que 1,5 milhão de reais foram investidos, em 2008, nas praças de toda a cidade, sendo grande parte da verba destinada à Praça do Derby, por ocasião da obra do Corredor Leste-Oeste. A prefeitura do Recife divide a responsabilidade da manutenção das praças com empresas particulares através do Programa Adote o Verde, no qual as empresas se responsabilizam pela preservação do local em troca de espaço de divulgação publicitária.
Para Ana Rita, o Programa Adote o Verde não soluciona os problemas das praças. “Não resolve, em alguns casos funciona”, completou, citando a Praça de Casa Forte como exemplo da falta de cuidado. A coordenadora do Laboratório da Paisagem (UFPE) e membro do Comitê Internacional de Jardins Históricos e Paisagens Culturais (IFLA) afirmou que a praça apresenta árvores cortadas, lago mal conservado, além de calçada comprometida. O calçamento do lugar foi um dos motivos para Humberto Nicodemos, cirurgião-destista, parar de caminhar na praça. De acordo com ele, para desviar dos buracos, as pessoas são obrigadas a arriscarem-se pelo asfalto.
Adotante da praça de Casa Forte, o Sindicato de Empresas de Transporte (SETRANS) recebeu com estranhamento a informação de queixas sobre os cuidados com o local. Segundo Carina Albuquerque, coordenadora de Projetos Especiais, a SETRANS não recebeu nenhuma reclamação oficial a respeito da má conservação da praça. Ela falou ainda sobre o prêmio Adote o Verde que o sindicato recebeu da prefeitura por dois anos consecutivos (2007 e 2008) pela preservação, sugerindo que falta diálogo entre o governo municipal e as empresas adotantes. De acordo com as atribuições previstas no Programa Adote o Verde, cabe à prefeitura orientar as empresas e fiscalizar a manutenção das praças adotadas. Até o fechamento desta reportagem, a assessoria da prefeitura não se posicionou a respeito dessas ações. ■

Gênesis

Bom dia, boa tarde e boa noite.
Eis aqui um espaço para vocês (e quando digo vocês, digo nós) divulgarem um pouco do bom jornalismo que começa a iluminar o céu do novo mundo.
Espero que a experiência (não sei se primeira ou não) tenha sido boa e proveitosa para vocês e que a inquietação com as coisas ao redor continue assim: imensa a ponto de gerar ações.
Não deixemos que as adversidades (ônibus errados, emails não respondidos e grosserias ao telefone) nos tire a vontade de mudar um tiquinho do mundo.
De cordial, já basta o nome da disciplina.

ps.: para os que não sabem o que se passa aqui, a seguir teremos exibidas reportagens de alunos do 3º período da UFPE, fruto da disciplina ministrada por Adriana Santana, Jornalismo Cordial.

aproveitem sem moderação. :)